quarta-feira, 11 de abril de 2018

sobre amor, sorrisos, pés e outras liberdades que encontrei em ti

Fotografia: Amanda Nascimento.

se tivéssemos nos conhecidos descalços, já seria tua. eu passaria a acreditar em amor à primeira vista. tua volúpia me trouxe aconchego. tua capacidade de adaptação me trouxe liberdade. teu sorriso me trouxe uma eterna sensação de sorte. teu corpo, no maior ápice do clichê, me trouxe abrigo. tu me trouxeste amor. tu és amor. e eu verde de apreensão, fui afagado pelo rosa do teu cuidado. e numa mata atlântica desmatada do recife, teu beijo. teu toque foi a chave para a porta que ajudastes a construir. e entre milhões de bichas, quisestes a mim. e eu sou tua, até quando não posso.

tua.

e teve momentos que fostes. mas tu voltas. tu sorris. tu olhas. e percebo que nunca partisses, porque te guardo em mim de tantas vezes que segurei tua bunda com minha boca. e te prendi. tua extraordinária energia me faz até obliterar conteúdos enfadonhos da química. mas não paro de pensar em ti. tu mereces. tu significas. ressignificas. tua beleza marginalizada no corpo da bicha grita.

eu te amo.
eu tenho medo. muito.

talvez as cervejas acabem e eu perca um pouco dos sentidos. me sinto melhor ébrio. me embebedas de ti. espero que não acabes. e te agradeço. dançando uma música de sza ou um brega de mc elvis. olho o que caminhamos vendo as pegadas deixadas e imaginando teus pés.

isso tudo é sobre amor, sorrisos, pés e outras liberdades que encontrei em ti. e eu sou tua, até quando não posso.

tua.

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Pra ti, a quem devo tanto. 
Escrito por Marcos Antonio
Trabalho fotográfico de Amanda Nascimento.

sábado, 17 de setembro de 2016

Para teu olhar perdido e teu sorriso que ofusca o sol do meio dia


“When I’m kissing my love I close
my eyes and see a pretty city
with a million flowerbeds.”¹

Não tive tempo de saborear os instantes finais de sobriedade. Julgava ter acordado antecipadamente de um sono lúcido que oprimia meus sentimentos. Talvez teu cheiro tenha me despertado e ao abrir os olhos eu gravei tua pinta. Perdi os momentos serenos em que não havia ninguém para contar as cervejas. Quase quatro anos de falsa plenitude arruinados por um sorriso preso que escapava de teu rosto sério. E eu me encantava como havíamos rompido os confins de nossas terras e começado uma colônia de exploração.
Fiz promessas clandestinas ao deus que insista em não me ouvir. Talvez ele não tolere heresia. Mas ainda estávamos aqui, consumando pederastias. Indagando frases bobas, bagunçando cabelos, trocando imagens, cheirando nossas peles, abraçando nossos corpos, beijando nossas sensações. Ignorando que eu habitava Marte e tu habitava Netuno. Que eu era fogo e tu era água. Que eu era cardinal e tu era mutável. Simplesmente fundimos nossas órbitas e redefinimos o significado de tudo. Tudo não importava. Eu comecei a rir e tu riu também. Uma risada que não conseguíamos parar.
Quem sabe esses parágrafos sejam para tuas mãos macias que tocaram meu corpo em 12 de abril de 2016, ao anoitecer. Para todas as nossas fotos tiradas de câmeras que nunca sentirão o quanto eu te quero bem. Para todos os astros que torcem por nós. Ou somente para nós. Prometemos não conversar sobre o desconhecido. Estamos seguindo nossas linhas paralelas com os braços arqueados sem soltar as mãos.
És meu desfiar de Björk.
Meu pássaro azul de Bukowski.
Meu mistério de Blair.
Entramos no parque de diversão e escolhemos o carrossel. Lentos, mas sempre na mesma distância. Ainda seguro o algodão doce da primeira volta. Quantas ainda nos restam? Juramos não falar. Contudo pondero:
Com certeza dançarás um brega.
Talvez me concedas a dança.
Comprei bilhetes reservas.
Espero que consigamos usar todos. 

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Escrito por Marcos Soares. Por junho/julho deste ano. 
Trabalho fotográfico de Luma Torres.
¹Kissing my love de Fiona Apple.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Se eu fosse saudosista


apesar de reticente, lembrava
vagamente
daquilo que ardia aqui dentro
como brasa

ainda que meu cérebro martele uma culpa
tua
sei que não foste embora;
nem eu

mesmo assim
não estamos mais
aqui

se fosse possível mensurar
quantas vezes
me lembrei dos teus olhos
mudando de cor toda vez que
me olhava

e contar quantas vezes
tua língua de aço
- liga daqueles metais que eu já esquecera o nome -
brincou com a minha no escuro
daquela sala de cinema
me faltariam números pra usar

parece saudosista, mas não
é

apesar dos delírios loucos
beijando teu corpo e imaginando
teu gozo
na minha boca

e de estar escrevendo tudo isso
às quatro da tarde
no dia do teu aniversário
enquanto escuto Adriana Calcanhotto
na maior fossa

eu reluto às lembranças inventadas
de coisas que se perderam com o
tempo

parece saudosista, mas não
é


Thais Lima, 23/05/16.

Fonte da imagem: Quadro minimalista de ZANETTI, J. R. Representação da personagem Desire, presente na HQ Sandman. Disponível em: link.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Signo de ar

Fotografia: Ariko Inaoka

Eram ardilosos aqueles olhos
vitrais;
eu nem percebera à primeira vista.
Ninguém perceberia.

Me atraíam por uma força
estranha
que a física não sabe explicar,
mas Caetano sabe.

De repente, parecíamos um conjunto,
uníssono,
invólucro de floreios vertiginosos
que mascaravam nosso verdadeiro ego.

As palavras que saíam da tua boca
de mentiras
ecoavam em minha mente,
dançavam nas fenestras de meu sorriso estúpido.

Meus dentes à mostra
presas de carnívora
obstinada
veneno doce que tinhas prazer em provar

Éramos redoma de vidro
cheia de chama e fumo
que vem e passa;
Bandeira entende.

Mas o vidro era fino,
o fumo perdeu a validade,
a chama virou brasa.
Tudo veio, mas passou.

Me disseram desde cedo:
nunca confie em signo de ar.
Quem dera eu
tivesse escutado.

Tudo o que sobra em mim,
falta em você.
Tudo o que sobra em você,
falta em mim.

Ainda assim, não nos completamos.
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Escrito por Thais Lima, 07/12/15.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

De todas as memórias que não dão para usar



Não sei de onde vieram todas as feridas. Sei que conto as cicatrizes como lembrete, mas nada posso dizer daquelas que não estão em mim. Não preciso me desculpar. Chegará um momento que não haverá retrato, nem ninguém além do disléxico deus que não me ouve. Só parênteses. Não significo. Não deveria.
Lembranças!
Estas levadas pelos astronautas verdes de outrora. Astronautas que chamei de extraterrestres quando no mundo deles adentrei. Agora carregam, em cápsulas, as reminiscências banhadas no nitrogênio líquido impedindo minhas verdades de fazerem alarde.
Mas elas gritam:

Aquela menina que não lembro o nome
me dava as mãos no intervalo
por um momento pensei ser hétero
criação

Christian ria enquanto me enganchava na raia
mas me deixava ganhar as competições de nado
aprendi com ele as primeiras noções
de ser amado

Minha dupla na aula de informática
minha melhor amiga, Thais
o máximo que aprendi daquela aula
foi que você pode escolher sua família

Aline ainda vive em algum lugar
mas não nos importamos mais
nem sabemos mais
se foram só duas vezes que falhamos

Alberto continua aqui
com aqueles olhos perdidos
que mostram um mundo
no qual ainda me perco

Não sei se eu e Alysson somos algo
mas não esqueço que já fomos
talvez eu nunca seja tão bem sucedido outra vez
acabamos dia 4 de agosto de 2012

Um dia André será a maior das minhas delações
mas agora não
por hora finjo ter dito o que precisava
ainda há tanta cortina até que o sol entre

Vitor foi a coisa mais estranha que me aconteceu
e não aconteceu
e agradeço por isso
talvez eu esteja começando a aprender

E por fim, elas silenciam. Ainda lembram daquele sapato que nunca mais voltará a caber em meus pés. Só cansaram de lutar. Minhas memórias são animais enjaulados no meu cérebro. E não há domador mais vigilante. Mas, às vezes, ele descansa.
Sempre haverá saudade.

[precisas lembrar...]

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Escrito por Marcos Soares. 02/12/15.