quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

De todas as memórias que não dão para usar



Não sei de onde vieram todas as feridas. Sei que conto as cicatrizes como lembrete, mas nada posso dizer daquelas que não estão em mim. Não preciso me desculpar. Chegará um momento que não haverá retrato, nem ninguém além do disléxico deus que não me ouve. Só parênteses. Não significo. Não deveria.
Lembranças!
Estas levadas pelos astronautas verdes de outrora. Astronautas que chamei de extraterrestres quando no mundo deles adentrei. Agora carregam, em cápsulas, as reminiscências banhadas no nitrogênio líquido impedindo minhas verdades de fazerem alarde.
Mas elas gritam:

Aquela menina que não lembro o nome
me dava as mãos no intervalo
por um momento pensei ser hétero
criação

Christian ria enquanto me enganchava na raia
mas me deixava ganhar as competições de nado
aprendi com ele as primeiras noções
de ser amado

Minha dupla na aula de informática
minha melhor amiga, Thais
o máximo que aprendi daquela aula
foi que você pode escolher sua família

Aline ainda vive em algum lugar
mas não nos importamos mais
nem sabemos mais
se foram só duas vezes que falhamos

Alberto continua aqui
com aqueles olhos perdidos
que mostram um mundo
no qual ainda me perco

Não sei se eu e Alysson somos algo
mas não esqueço que já fomos
talvez eu nunca seja tão bem sucedido outra vez
acabamos dia 4 de agosto de 2012

Um dia André será a maior das minhas delações
mas agora não
por hora finjo ter dito o que precisava
ainda há tanta cortina até que o sol entre

Vitor foi a coisa mais estranha que me aconteceu
e não aconteceu
e agradeço por isso
talvez eu esteja começando a aprender

E por fim, elas silenciam. Ainda lembram daquele sapato que nunca mais voltará a caber em meus pés. Só cansaram de lutar. Minhas memórias são animais enjaulados no meu cérebro. E não há domador mais vigilante. Mas, às vezes, ele descansa.
Sempre haverá saudade.

[precisas lembrar...]

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Escrito por Marcos Soares. 02/12/15.

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