“When I’m kissing my love I close
my eyes and see a pretty city
with a million flowerbeds.”¹
Não
tive tempo de saborear os instantes finais de sobriedade. Julgava ter acordado
antecipadamente de um sono lúcido que oprimia meus sentimentos. Talvez teu
cheiro tenha me despertado e ao abrir os olhos eu gravei tua pinta. Perdi os
momentos serenos em que não havia ninguém para contar as cervejas. Quase quatro
anos de falsa plenitude arruinados por um sorriso preso que escapava de teu
rosto sério. E eu me encantava como havíamos rompido os confins de nossas
terras e começado uma colônia de exploração.
Fiz
promessas clandestinas ao deus que insista em não me ouvir. Talvez ele não
tolere heresia. Mas ainda estávamos aqui, consumando pederastias. Indagando
frases bobas, bagunçando cabelos, trocando imagens, cheirando nossas peles, abraçando nossos corpos, beijando nossas sensações. Ignorando que eu habitava Marte e tu
habitava Netuno. Que eu era fogo e tu era água. Que eu era cardinal e tu era
mutável. Simplesmente fundimos nossas órbitas e redefinimos o significado de tudo.
Tudo não importava. Eu comecei a rir e tu riu também. Uma risada que não conseguíamos
parar.
Quem
sabe esses parágrafos sejam para tuas mãos macias que tocaram meu corpo em 12
de abril de 2016, ao anoitecer. Para todas as nossas fotos tiradas de câmeras
que nunca sentirão o quanto eu te quero bem. Para todos os astros que torcem por nós.
Ou somente para nós. Prometemos não conversar sobre o desconhecido. Estamos seguindo nossas linhas paralelas com os braços arqueados sem soltar as mãos.
És
meu desfiar de Björk.
Meu
pássaro azul de Bukowski.
Meu
mistério de Blair.
Entramos
no parque de diversão e escolhemos o carrossel. Lentos, mas sempre na mesma distância. Ainda seguro o algodão doce da primeira volta. Quantas ainda nos restam? Juramos não falar. Contudo pondero:
Com
certeza dançarás um brega.
Talvez
me concedas a dança.
Comprei bilhetes reservas.
Espero
que consigamos usar todos.
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Escrito
por Marcos Soares. Por junho/julho deste ano.
Trabalho fotográfico de Luma Torres.
¹Kissing my love de Fiona Apple.
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