sábado, 17 de setembro de 2016

Para teu olhar perdido e teu sorriso que ofusca o sol do meio dia


“When I’m kissing my love I close
my eyes and see a pretty city
with a million flowerbeds.”¹

Não tive tempo de saborear os instantes finais de sobriedade. Julgava ter acordado antecipadamente de um sono lúcido que oprimia meus sentimentos. Talvez teu cheiro tenha me despertado e ao abrir os olhos eu gravei tua pinta. Perdi os momentos serenos em que não havia ninguém para contar as cervejas. Quase quatro anos de falsa plenitude arruinados por um sorriso preso que escapava de teu rosto sério. E eu me encantava como havíamos rompido os confins de nossas terras e começado uma colônia de exploração.
Fiz promessas clandestinas ao deus que insista em não me ouvir. Talvez ele não tolere heresia. Mas ainda estávamos aqui, consumando pederastias. Indagando frases bobas, bagunçando cabelos, trocando imagens, cheirando nossas peles, abraçando nossos corpos, beijando nossas sensações. Ignorando que eu habitava Marte e tu habitava Netuno. Que eu era fogo e tu era água. Que eu era cardinal e tu era mutável. Simplesmente fundimos nossas órbitas e redefinimos o significado de tudo. Tudo não importava. Eu comecei a rir e tu riu também. Uma risada que não conseguíamos parar.
Quem sabe esses parágrafos sejam para tuas mãos macias que tocaram meu corpo em 12 de abril de 2016, ao anoitecer. Para todas as nossas fotos tiradas de câmeras que nunca sentirão o quanto eu te quero bem. Para todos os astros que torcem por nós. Ou somente para nós. Prometemos não conversar sobre o desconhecido. Estamos seguindo nossas linhas paralelas com os braços arqueados sem soltar as mãos.
És meu desfiar de Björk.
Meu pássaro azul de Bukowski.
Meu mistério de Blair.
Entramos no parque de diversão e escolhemos o carrossel. Lentos, mas sempre na mesma distância. Ainda seguro o algodão doce da primeira volta. Quantas ainda nos restam? Juramos não falar. Contudo pondero:
Com certeza dançarás um brega.
Talvez me concedas a dança.
Comprei bilhetes reservas.
Espero que consigamos usar todos. 

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Escrito por Marcos Soares. Por junho/julho deste ano. 
Trabalho fotográfico de Luma Torres.
¹Kissing my love de Fiona Apple.

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