Talvez eu tenha
perdido as esperanças enquanto dizias que me amavas. Talvez estivesse ressacado
das cervejas no meu estômago que não percebi a verdade indagada. Ou porque costumas
amar tão errado que não imaginei que pudesses acertar. Provavelmente era o
analgésico evitando decepções gravadas em cavernas pré-históricas em que
colocastes nossos rostos sorrindo naquele quarto. Fomos nossos tantas vezes que
nem percebemos o quão distantes estávamos das esquinas de nossas casas. Adentrastes
tão impulsivamente em um novo mundo e nem me retirastes, obrigando-me a ser o
crítico de teus atos defeituosos com outro rapaz que te merecia mais que eu.
Puseste-me naquele
altar para ouvir tuas orações desesperadas de uma rotina sem graça. Minha
fixação por teus olhares era reflexo de alguém que havia cansado de sorrisos
aleatórios. Talvez eu quisesse ser o protagonista de tuas danças, de tuas
escolhas, de tuas lágrimas, de tuas fodas. Fitava o desenho de Jack com uma
perspectiva de ser a Sally que precisavas ou o Zero que acariciavas. Mas eu era
o natal falho que planejavas, de onde cairias dos céus por ter tuas asas
cortadas ferozmente pela realidade divina. Tua silhueta hominídea, tua postura
singela, teu andar tolo, tua barriga. O labirinto de meia década no qual ainda
me isolava na tentativa frustrada de te descobrir por completo. Aspirações já
conquistadas, mas também perdidas.
Caímos tantas vezes
que nos encontramos.
Tropecei tantas vezes
e em todas te quis.
Tua face Arlequim
cantava sobre o Recife enquanto eu frevava ao som de Alceu.
Talvez eu só quisesse
que estivesses aqui. Escravizado. Nesse mundo subversivo, corrosivo, resignado,
jocoso, banhado pelo rio Aqueronte onde eu pudesse controlar teus sonhos, desejos
e deveres de outrora. Lugar esse que minha Vênus pisciana fez por nós.
Idealismo esse que provavelmente morrerá putrefato em esperanças azuis batendo
asas em harmonia com o vento oeste. Perdemos as vagas da primeira fila.
Trancamos nossas pálpebras.
Talvez me desenhes.
Provavelmente eu te
escreva.
Com certeza estaremos
juntos.
[espero que sim].
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Dou-me
o direito de perscrutar
e dou-lhe a ordem de ouvir.
Escrito por Marcos Soares.
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