quarta-feira, 15 de abril de 2015

Aos tropeços que te trouxeram



Talvez eu tenha perdido as esperanças enquanto dizias que me amavas. Talvez estivesse ressacado das cervejas no meu estômago que não percebi a verdade indagada. Ou porque costumas amar tão errado que não imaginei que pudesses acertar. Provavelmente era o analgésico evitando decepções gravadas em cavernas pré-históricas em que colocastes nossos rostos sorrindo naquele quarto. Fomos nossos tantas vezes que nem percebemos o quão distantes estávamos das esquinas de nossas casas. Adentrastes tão impulsivamente em um novo mundo e nem me retirastes, obrigando-me a ser o crítico de teus atos defeituosos com outro rapaz que te merecia mais que eu.
Puseste-me naquele altar para ouvir tuas orações desesperadas de uma rotina sem graça. Minha fixação por teus olhares era reflexo de alguém que havia cansado de sorrisos aleatórios. Talvez eu quisesse ser o protagonista de tuas danças, de tuas escolhas, de tuas lágrimas, de tuas fodas. Fitava o desenho de Jack com uma perspectiva de ser a Sally que precisavas ou o Zero que acariciavas. Mas eu era o natal falho que planejavas, de onde cairias dos céus por ter tuas asas cortadas ferozmente pela realidade divina. Tua silhueta hominídea, tua postura singela, teu andar tolo, tua barriga. O labirinto de meia década no qual ainda me isolava na tentativa frustrada de te descobrir por completo. Aspirações já conquistadas, mas também perdidas.
Caímos tantas vezes que nos encontramos.
Tropecei tantas vezes e em todas te quis.
Tua face Arlequim cantava sobre o Recife enquanto eu frevava ao som de Alceu.
Talvez eu só quisesse que estivesses aqui. Escravizado. Nesse mundo subversivo, corrosivo, resignado, jocoso, banhado pelo rio Aqueronte onde eu pudesse controlar teus sonhos, desejos e deveres de outrora. Lugar esse que minha Vênus pisciana fez por nós. Idealismo esse que provavelmente morrerá putrefato em esperanças azuis batendo asas em harmonia com o vento oeste. Perdemos as vagas da primeira fila. Trancamos nossas pálpebras.
Talvez me desenhes.
Provavelmente eu te escreva.
Com certeza estaremos juntos.

[espero que sim].

______________________________________________________
Dou-me o direito de perscrutar e dou-lhe a ordem de ouvir.
Escrito por Marcos Soares

Nenhum comentário:

Postar um comentário