Dançavas
algo sobre o fim do tempo. Suavemente ao descaso, como um café-da-manhã
esquecido naquela mesa de madeira roída por cupins. Tuas mãos seguiam a brisa
levantando a poeira que já era móvel daquele quarto cálido. Teus pés descalços
e calosos desenhavam tua história sem afeição da infância. Nas tuas únicas
rugas não havia o comum vazio, mas rosas erguendo-se contra a natureza
imperativa do outono. Rosas que exalavam o cheiro da tua nudez neste
cômodo de pornografias gravadas à surdina. Chaplin não captaria o mudo do sexo
que fazíamos para aquela lente solitária que se masturbava assistindo nossas
ébrias fantasias.
Mas
tuas fotografias perturbavam. Estas que mandavas quando não podias estar aqui.
Indecente mania de querer estar presente. Teu nu congelado, sem movimento.
Aquela virilha morta encarando-me contente. A falta do toque férvido de minhas
mãos na tua pele lisa e rígida. Teus lábios de garoto com batom, que me
marcavam, intactos como uma beleza narcisista.
Tua fotografia ardia-me as entranhas.
Tua
fotografia era nossa mentira.
Tua
fotografia era o sepulcro de minha alma movediça.
E
tua dança do fim do mundo recomeçava. Um filme misógino do Lars von Trier. Um
jazz feminista da Nina. Tua dança nua acalentando minhas cicatrizes. Meu
movimento nu te causando feridas. Nosso gemido mudo fazendo ressonância com o
canto dos pintassilgos que acompanhavam as buzinas. O pó que subia aos céus
clamando por essas almas perdidas. Pela luxúria amadora que estava gravada em
nossas fitas. E novamente ias embora sem despedidas.
Tua
fotografia ardia-me as entranhas.
Tua
fotografia era nossa mentira.
Tua
fotografia era o sepulcro de minha alma movediça.
Mas
aos deuses, agradeço, por tuas fotografias.
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Escrito por Marcos
Soares, 25 de fevereiro de 2015.
Encontrei esse blog ao acaso e meu Big Bang, vocês escrevem muito bem! Estão de parabéns!!
ResponderExcluirAh, cara, valeu. 8D Ficamos muito gratos, mesmo.
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