quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Sabão amarelo

Foto retirada do deviantART

“Tudo são escolhas”, mas que se foda.

Esse cheiro de sabão amarelo nas mãos me remetia dia de faxina. Dias de faxina não eram dias comuns. E o que não era comum me enfadava. Não sei ao certo o porquê de não querer novidades. Talvez o comodismo do meu pai tenha mais influências sobre mim do que minha mãe gostaria. O engraçado é que sempre escutava os outros dizerem que eu precisava de presença masculina, mas o que não percebiam a respeito disso é que todas as figuras masculinas da minha família cheiravam a merda. E todas as figuras femininas pareciam não se incomodar com esse cheiro. Eu detestava. Não posso ser injusto e afirmo com certeza que aprendi algo com os homens da minha família: eles eram tudo o que eu definitivamente não queria; e eram coisas pelas quais eu não viveria.
Pálido. Havia escolhido o pior dia para lavar minhas roupas. A palidez do dia impedia o sol de aparecer com veemência e eu precisava dessas roupas secas. Eu era péssimo em escolhas. Essa era uma falha da qual a genética não me permitiu fugir. E esse cheiro de sabão amarelo nas mãos me lembrava disso. Mas já perdoei meus pais por isso. Talvez eles nunca me perdoem por não me importar. Só que decididamente parei de exaltar minha lua em Áries e querer matar todos pelos erros cometidos, pelos olhares lançados, pela falta de percepção, por não terem senso e serem tão incapacitados de falarem a verdade. Por serem tão negligentes com as próprias palavras. E eu amo palavras. Guardem as atitudes para quem necessita dos clichês!
Precisava de algo para ignorar o cheiro do sabão amarelo. Só assim eu pararia de pensar nessas memórias. Meu único medo é não acontecer na vida. Não dá certo nesse espaço de tempo. A inutilidade me apavora. Não quero ser um dos meus familiares. Espero que minhas escolhas tragam retornos, bons ou ruins, que sejam retornos que eu saiba lidar. Também tenho horror a perder o controle. Um dia serei aquela pessoa foda. Um dia irei melhorar. Talvez perdoe de fato meu pai, minha irmã, meu tio, os evangélicos, meu ex namorado, André... Mas por hora me dou o direito de não querê-los bem. Ainda não sou essa pessoa foda. No momento só preciso tirar esse cheiro de sabão amarelo das minhas mãos, pois me enfadei de pensar.

Por Marcos Soares,

27 de novembro de 2014. Em silêncio.

2 comentários:

  1. Sem dúvidas uma das coisas mais fortes que você já escreveu. Essas palavras doeram. Revirou-me as entranhas, segurei o ar, mil pensamentos me vieram à mente. Esse texto mexeu comigo, com o meu emocional. Mas é assim que se percebe que escreveu um belo texto, não é?

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    1. Essas palavras são meu emocional. Ou uma parte saturada dele. Mas obrigado por senti-lo. <3

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