segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Quem sou eu?

Galatea das Esferas, Salvador Dalí.

Meu corpo é poeira que o vento levanta
O vento que balança as folhas
A folha que só cai na primavera
A flor que só desabrocha no outono
A chuva que só cai no verão
O calor que se só paira no inverno
As estações que estão fora do calendário
Um calendário sem datas
Datas fora de um contexto
Um contexto poético
Um poema escrito com lápis desapontado
Um lápis que escreve um soneto sem métrica
A métrica de uma música sem rimas
Rimas pobres
Tão pobres quanto uma tela em branco
Uma tela de arte abstrata
Tão abstrata quanto a realidade
Uma realidade impressa num pano sujo de graxa
O pano no qual eu limpo o pincel sujo de tinta
A tinta que lambuza a roupa que visto
A roupa que suja o lençol que me abriga do frio
O frio que dói nos ossos osteoporóticos
Mas são estes ossos que sustentam meu corpo.

Escrito por Thais Lima, em 07 de dezembro de 2014, num leve momento de autoanálise.

2 comentários:

  1. Não sou uma beleza em poemas, logo mais este não ter métrica. hahah. Gostei do uso intenso de antíteses/paradoxos, fazendo com que se note o misto dentro do todo que é o eu lírico. Amei o fato do eu lírico não se caracterizar sozinho. Sua vida também é exposta de forma que o adjetiva. Poema extremamente competente. Denso, mas leve. Parabéns, dupla. sz

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    1. Muuuuuito obrigada. Nem tudo o que eu escrevo tem teor autobiográfico, mas este poema tem. É como 51, uma ideia puxa a outra! hahahah. Não acho que esse poema tenha terminado bem. A última frase não me parece um bom desfecho, mas acho que não poderia ser diferente. Ainda há-se muito a construir.

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