sexta-feira, 1 de março de 2013

Partes inacabadas



"– Nada é perfeito! – suspirou a raposa."¹

Tecnicamente nunca senti medo do escuro. Talvez já tenha fingido para sentir o abraço de alguém... sem  intensões maldosas, não muitas. Mas aquela brisa noturna estava me fazendo mal. Nem mesmo a lua, na qual vislumbrava tantos sorrisos, clareava agora. Não havia coragem nas minhas novas sensações. Penso que seja uma consequência dos meus últimos atos. Paga-se uma pena por brincar de ser tolo. Mas acreditei em você quando disse que valia a pena. E possivelmente valeu. E realmente foi aquilo tudo que você disse. O “x” da questão é que você acertou tudo. Até na parte em que “iria doer caso acabasse”. Você realmente era bom naquilo!
Sempre devemos prestar atenção nos detalhes. Mas é que havia tanta coisa, que eu só as aproveitei. Achei que haveria tempo para apreciar tudo novamente. E nesse tempo estaríamos lá. Até preferi pensar que seu relógio estava atrasado, contudo você nunca compareceu. E minha cara de tolo naquele lugar encerrou nossa brincadeira. Até mesmo as pessoas que passavam ao meu lado pareciam apontar para mim e rir. Será que elas já sabiam que não se devia acreditar em estranhos?
Não nego que doeu. Foi insuportável deixar a dor fluir como deveria. E ah, houve sim aquele momento de apreciar tudo novamente. Pareceu mágica. Lembrei-me de como suas gargalhadas preenchiam meu dia... puf! Lembrei-me de quando ouvia seu coração... puf! Lembrei-me do primeiro pequeno desentendimento... puf! Lembrei-me daqueles pequenos planos bobos... puf! Lembrei-me do primeiro beijo de um pretensioso amor... puf! Lembrei-me de quando o vi pela primeira vez... puf! Você simplesmente foi apagado pela dor. Estava tudo branco agora. Talvez o branco fosse mesmo a cor da paz.
Foi estranho pela primeira vez observar o sol e procurar por um sorriso. Era mais desafiador do que procurar na lua. Aquela estrela escaldante e enorme poderia me cegar, e só me deixar com a esperança de um sorriso. É que devemos sempre prestar atenção nos pequenos detalhes. Foi quando me dei conta de que brincar de tolo realmente valeu a pena. E talvez uma parte da vida seja realmente composta disso. Uma parte em que devemos prestar atenção nas tolices, até aprender o suficiente para contemplar a felicidade sozinho, ou contemplar com a parte daquela brincadeira que valeu a pena. Sei lá, ainda estou brincando de ser tolo!

***

Escrito por Marcos Soares.
Talvez porque todos nós devêssemos aprender um pouco mais.
¹ Trecho de O Pequeno Príncipe em sua conversa com a raposa.

2 comentários:

  1. Que lindo, bem escrito e expressivo. Espero que sua "tolice" não te frustre, crescimento é o essencial na vida, veja tudo pelo lado virtuoso. Boa sorte!

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  2. Você ainda permanece com o conflito existencial em seus textos, sempre acompanhados por contradições dolorosas. Há por parte dos personagens sempre um medo de se entregar a uma das bifurcações de um estrada, sobre a qual sempre há uma reflexão, concluída em um pensamento inegavelmente insatisfeito. Seria uma tentativa de conformismo ou de pura carícia ao ego ferido? Não dá para saber. Mas fica claro que ainda há muitos problemas da alma a serem resolvidos. Muitas coisas a se pensar, para as quais procurar alguma coerência. A isso resuma-se, talvez, a vida. Ou, especificamente, a vida dos seus personagens. Ou a sua...

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