A Noite Estrelada de Van Gogh, pintor pós-impressionista. |
Ele olhou para aquele local por onde
esteve por tanto tempo. Contemplava-o. Ele fora uma fortaleza. Um esconderijo.
Mas estava feliz por está saindo dele e indo em direção da vida.
Atravessou outras crianças. Estava
determinado, foi educado enquanto passava por elas. Cumprimento-as e viu que
por muito tempo havia sido egocêntrico, egoísta. Todo esse tempo só
enxergou sua dor, esqueceu dos outros. Uma criança nunca faz isso. Sentiu-se
contaminado pelos adultos e pediu desculpas a todos ali. Em silêncio. Pois certas dores, nós temos que guardar para nós mesmos, talvez, por serem pessoais
demais, ou porque possamos nos decepcionar pela reação alheia. Pelo total
descaso que eles poderiam esbanjar.
Viu o casal sorrindo um para o outro. Ele
avançou e pisou em um galho. O barulho assustou o casal que quando o viu,
soltou um suspiro e depois riram.
– Como
esperávamos por esse dia. – falou a menina começando a chorar.
– Por que
demorou tanto? – disse o menino.
– Por que não
me procuraram? – disse Garotinho, ele também podia se revoltar.
A mulher se aproximou e o olhou com medo
de sua reação.
– Foi você
que fugiu de nós. – balbuciou. – Eu quase me desesperei quando percebi que
tinha saído por aquela porta sem dizer nada. Quis ir atrás, mas você me
bloqueou, entrou num mundo só seu. Ali, por mais que eu estivesse perto, você
não perceberia.
Garotinho já chorava. Agora ele lembrava,
fora uma escolha sua.
– Por que
discutiram daquele jeito? – perguntou ele. – Eu não precisava daquilo, era um
capricho. Sei que sou uma criança, mas posso entender as coisas.
– Nós
sabemos, só não queríamos... decepcionar você. – disse o menino.
– Não iriam.
– falou Garotinho rindo feliz, eles o amavam, agiu tolamente. – Eu sempre
estaria do lado de vocês. Saberia que tentaram de tudo um pouco. E que não
desistiram fácil. Eu os amo, por isso sai correndo. Senti-me um peso e não
queria atrapalhar a vida de vocês. São importantes demais para que fosse eu o
destruidor de tudo que eu mais prezava.
Os três choravam. Eles estavam juntos de
novo.
– Nos perdoe.
– disse em uníssono o menino e a menina.
– Não há
necessidade. – disse Garotinho. – Só me prometam uma coisa.
Eles esperaram.
– Que
independente do que aconteça, essa será nossa casa. – e apontou para o coração
deles. – A maior delas. Que nunca nos separemos por qualquer besteira e
continuemos a rir por besteira. Não podemos esquecer de cada criança que habita
em nós, e que elas tem o dom de ver o lado bom, que dizer, o melhor lado da
vida. Essas crianças que somos, que tem o olhar mais sincero e aconchegante.
Que esbanja um amor incondicional, que dar o coração querendo, na maior
humildade, receber outro em troca. Que consigamos dizer: te amo!
Eles se abraçaram na mesma hora e não foi
preciso mais nenhuma resposta.
Um novo
flash. A primeira pálpebra abrira
e esse menor sinal de vida foi festejado com
um grito fino de felicidade da senhora que estava
ao lado do garoto na cama.
Garotinho
sofrera um acidente de carro
após fugir de casa por conta de um mal-entendido.
A segunda pálpebra abriu e essa foi
seguida da primeira palavra:
– Mamãe?
– Estou aqui
filho. Sempre aqui.
– Eu sei
disso. E eu estou de volta. – falou ele rindo para ela. – Será que a senhora
aguenta?
– Vou tentar.
– disse Mamãe retribuindo o riso.
Papai entrou no quarto em choro. Olhou
para o filho e disse:
– Garotinho?
– Sempre
aqui, Papai.
– Sempre.
Voltaram para casa logo depois de uma
pequena bateria de exames. Eles estavam felizes e depois de um belo jantar,
todos foram dormir juntos, numa mesma cama com a vista para uma janela.
Papai e Mamãe dormiram quase que instantaneamente, estavam em paz. Garotinho
não. Ele não conseguia acreditar que aquilo passara de um sonho. Não podia. Então para disfarçar a frustração, olhou para a janela e ficou contemplando as
estrelas. Quando em meio a tanta concentração um barulho chamou sua atenção.
Uma estrela entoava um som encantador. Ela sorria. A Pequena Dádiva estava ali,
olhando por ele. Então foi aí que Garotinho conseguiu dormir.
Ele sabia que tudo fora verdade. Que tudo
que viveu ali fora inteiramente útil. E concluiu de forma deslumbrante, que
sobre o magnífico olhar de nós mesmos, crianças, podemos descobrir as várias
verdades que rodeiam o mundo.
Agora ele sabia o que havia acontecido.
Nunca saíra de sua
realidade, só precisou analisá-la com os olhos de seu interior. Com os olhos
de uma criança.
***
Feito a partir de um pedido: "Cria uma história com uma verdade, uma mentira, e uma verdade com ironia".
Amei o final.
ResponderExcluirE pra mim, garotinho adquiriu um dom.Ele pode encontrar-se com mais sentimentos sim, senhor, seu Marcos.Nem que seja dentro dele mesmo.
Porque, para Garotinho, tudo é possível.
Espero rever Garotinho e suas aparições mais vezes.
Encatador! Parabéns, Sr. Soares!
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